quinta-feira, 22 de março de 2018

SONETOS EM PENCA DE TRÊS

Três sonetos do reino animal, sem clemência. Cada qual aparece de modo mais estranho. São as personagens do dia. Desculpem-me alguma irreverência.



PERU
Um peru que pia como peru
Como peru deve ele ser tratado.
Cada pio que der é analisado,
Já fede o filhotinho de urubu.

O eco é uma resposta de um som qualquer
Que assim que ouvido é interpretado.
Caso não seja de total agrado,
Quem emite tem a culpa e mister.

Cada qual veste certo a sua história!
Cada planta tem a sua folhagem
Que não desmente a verdade ilusória.

O velho espelho retrata esta imagem
Que bem gravada fica na memória.
Cada qual traz na cara sua mensagem.



SER VACA
As portas do hospício estão sempre abertas
Pra quem sai fora da linha do trem
Vê o outro lado que a vida contém
E o crivo da imaginação liberta.

Solta o verbo, mesmo sem microfone
Veste-se de Adão - e de Eva ataca.
Morador diz que se transformou em vaca
E em vez de chifre na cabeça um cone.

Cada qual veste a vida que escolher
E cada qual sua verdade tinha
E cada qual procura o que fazer.

- E desde quando a transformação vinha?
E sem hesitar vai já responder:
“Desde quando eu era uma bezerrinha.”



CACHORRO MORTO
Foi numa vila bem longe daqui
Cachorro morto na rua jazia
Três ou quatro dias de sol, fedia.
Ninguém veio para tirá-lo dali.

Mulher sentada na porta da casa
Cuidava dos filhos brincando em frente
Queixava da fedentina inclemente
E o mau cheiro os moradores arrasa.

Um vizinho quis enterrar o bicho
Mas ninguém ajudou nesse socorro
Por moleza, por preguiça ou capricho.

Deixa o tal acabar até o couro!
E ele só? Ia por a mão no lixo?
Desistiu. Sozinho, era desaforo!

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